A Babushka <$BlogRSDURL$>


Nas palavras encontramos o confronto firme, dos nossos pensamentos, que teimam em contrariar a nossa camuflada sabedoria! [Reptil Vamp] - Click

maio 13, 2005

"Falas sobre cultura"

Nada mais desprezível e repetitivo do que certas falas sobre cultura que jorram nos congressos, seminários, na mídia, hoje em dia. A impressão é que houve uma perda da capacidade de produzir pensamento e a ausência de plateias seduzidas pela reflexão. Não se interroga a produção simbólica, faz-se reivindicações, relatos, comentários para animar um auditório acostumado ao olhar da televisão. Se algum dia na história, o filósofo, o intelectual, o crítico, o artista, o poeta ocupavam o lugar privilegiado de formar opinião, hoje, esse lugar é ocupado pelo produtor, o empresário cultural, o profissional de marketing. E a cultura é vista apenas como um agente de estímulo da economia de uma sociedade em declínio.

O discurso fica na superficialidade. Que a cultura é um bem de consumo, ninguém duvida, gera emprego, garante retornos significativos para a economia de uma cidade. Mas os profissionais do marketing, os políticos e os empresários ignoram na cultura a sua lógica: a do sentido, que ela é uma dimensão da existência do homem. "O que chamamos 'cultura', portanto é a ciência e a consciência com que o homem ocupa o espaço e o tempo de sua morada histórica. E o homem culto é aquele que cultiva essa ciência e essa consciência." (Gerardo Mello Mourão). A cultura é um conjunto de práticas por onde transitam uma autonomia, a experiência de uma saber e uma política específica. O patrocínio que substituiu o antigo mecenato reduziu os problemas da cultura às leis da economia e o poder do patrocinador acabou decidindo sobre padrões estéticos ou linguagens. Há uma valorização arbitrária de um produto cultural em detrimento de outro e a divulgação fica submetida a um jogo de poder de quem manipula directa ou indirectamente com as mídias e o mercado.

Somente com talento e invenção é difícil competir no mercado. Os profissionais que ganharam celebridade através do marketing cultural animam o espectáculo que faz da cultura um supermercado de entretenimentos. "Nos meios de comunicação, a confusão que se estabelece entre o princípio tradicional de celebridade baseado nas obras, e o princípio midiático baseado na visibilidade da mídia é cada vez maior." (Pierre Bourdieu). A cultura passa a ser apenas o que ela representa no campo da economia e da diversão. Enquanto se discute as leis de incentivo a cultura não se discute a idéia de cultura e as instituições culturais não cumprem o papel de difundir um princípio de cidadania cultural. Uma política cultural indecisa, calcada em princípios poucos profissionais que desprezam ou desconhecem o fazer e suas materialidades específicas. E sem trabalhos, sem críticas, sem um suporte que sustente a formação e a divulgação da informação não vamos construir nenhuma credibilidade cultural. "A arte age e continuará a agir sobre nós enquanto houver obras de arte" (Merleau-Ponty). E não discursos sobre as obras.

Uma cidade, um Estado, um País passam a ter uma existência cultural e conquistam um reconhecimento no futuro quando aprendem a respeitar seus artistas e intelectuais, quando aprendem a conviver e garantir as disparidades culturais. Entendemos que as instituições culturais como; fundações, universidades, museus, etc. têm um papel importante a cumprir na produção e divulgação da informação dos produtos artísticos acima de compromissos pessoais e políticos que ignoram a natureza das linguagens artísticas. "No curso de grandes períodos históricos, juntamente com o modo de existência das comunidades humanas, modifica-se também seu modo de existir e perceber" (Walter Benjamin). A produção cultural participa dessas mudanças com a tarefa de transformar a realidade dentro de um território determinado da sociedade e do pensar onde a cultura age.


maio 12, 2005

Fases...



Tens fases como a lua
umas vezes andas escondida
outras, te passeias pela rua...
Perdes-te entre as ruelas escuras
mesmo sendo dia ainda,
não o deixas de estar sozinha.

Entre as tuas diferentes fases
que vão e vão como relâmpagos
no teu calendário secreto,
astrólogo o inventou mesmo sem tempo,
para não perderes as fases do dia
não o procures no sitio onde me encontro,
porque estou onde sempre estive,
será sempre, ao pão de ti se tu quiseres...

Gira a solidão em torno de ti
o tempo escasseia para nosso uso
não o te encontres com mais ninguém
porque tens as fases da lua...
E quando chegar esse dia de ser teu
já não é o dia de seres minha
porque esse dia já se passou
o outro dia se escondeu...





Projectos

Projectos são aventuras; é o nosso mundo sem fronteiras em que enterramos o presente e nos projectamos, lá dentro de nós, para uma distância imprevista, mas onde, estranhamente, já nos situamos, nos vemos, nos apalpamos projectados no futuro.
Bizarra força essa de, como hoje somos, nos transformamos para o amanhã onde tudo passa a ter definições, contornos, nomes, gente, cidades...
Desejos que passam a ter cores vivas, planos não concretizados, mas antecipadamente vividos. Estamos sempre para além do presente, mas também sempre em choque com o futuro.
Projectos, aventura de dentro de nós, esse sentimento de não ver o fim, mas percorrê-lo como uma última viagem.
Os meus projectos vão abrir o ventre largo do futuro e no futuro fica o sonho e todas as cores vivas mais a face dos dias que aqui deixo apontada.
Os meus projectos vão encher o circulo intacto da vida e a página em branco do tempo que chega.


maio 11, 2005

Saudade



maio 10, 2005

Dispersão



maio 09, 2005

Sonho inacabado




Persegues-me implacavelmente
na boca do teu sorriso.
E desperta meus sonhos
essa recordação cruel.
Meus próprios olhos viram
como tu te oferecias
ao beijo dos meus lábios,
como uma tormenta.

Um vento de loucura
atravessa a minha mente.
Desfecho de amargura
que eu me quis vergar.
Minhas mãos se crisparam,
meus lábios se contiveram,
sua boca se riu
não podia matar o desejo.

Aquele amor de um dia
foi a minha loucura.
Contém a minha alegria
nos campos e na lua.
Porque eu queria tanto
poder confiar nela,
hoje há em mim, a lembrança
numa recordação de dor.

Dormente e abatido
as minhas feridas sangram
bebo mais um trago,
que eu quero esquecer o sonho.
Por que estas pernas andam
do amor ao desengano
como estas as verdades más
que são duras de encaixar.

Do fundo de meu copo
sua imagem me observa
é como uma condenação
seu sorriso sempre igual.
Bonita e destemida
sua boca me encandeia
como a chama da morte
numa ingrata bola de cristal!


maio 08, 2005

Tudo o que Cessa é morte




Copyright: Pinto da Silva


Tudo o que cessa, é morte, e a morte é nossa
Se ao para não que cessa. Aquele arbusto
Fenece, e vai com ele
Parte da minha vida.
Em tudo quanto olhei fiquei em parte,
Nem distingue a memória
Do que vi do que fui.

in Poesia, Ricardo Reis


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