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outubro 04, 2009

Mies van der Rohe

O solitário caçador da verdade

Em 2006, o arquitecto alemão mais importante do movimento modernista estaria completando 120 anos. Embora assim propagada, não é a perfeição técnica a principal característica da obra que revolucionou a arquitectura do século 20.

Ao se referir à compreensão de como a juventude marca o resto de nossas vidas, o filósofo francês Gaston Bachelard comenta em A Poética do Espaço que “somente quando velhos, nos tornamos jovens”.

Nascido em Aachen, na fronteira alemã com a Holanda, em 27 de março de 1886, é o próprio Mies van der Rohe quem nos dá a chave para a compreensão de sua arquitectura ao comentar, em um artigo publicado em 1961, a influência que as construções de sua cidade natal, a antiga capital do Sacro Império Romano Germânico, exerceu em sua obra.

Ludwig Mies (o sobrenome da mãe, van der Rohe, foi incluído por Mies mais tarde) frequentou a escola da catedral católica construída por Carlos Magno e ajudou o pai na firma de cantaria que possuía. Passando sua infância e adolescência entre lápides e igrejas medievais, sua formação não foi académica, mas de natureza prática e religiosa.

Os primeiros anos

Pavilhão alemão em Barcelona, por Mies van der Rohe Nietzsche havia decretado a morte de Deus e os homens estavam entregues ao seu destino. “Sou a hora, e a hora é de assombros e toda ela escombros dela”, as palavras de Fernando Pessoa não poderiam definir melhor a crise de valores em que se encontrava a Europa entre o final do século 19 e início do século 20.

Este era o contexto cultural que Mies encontrou em Berlim em 1905, quando foi trabalhar no escritório do arquitecto Bruno Paul. Dois anos mais tarde, um professor de filosofia, completamente idealista, queria que sua casa fosse construída por um arquitecto jovem. Paul indicou Mies, que aos 21 anos projectou e construiu a residência de Alois Riehl, um dos principais filósofos berlinenses do início do século 20.

O projeto de Riehl lhe abriu as portas da sociedade berlinense, pondo-o em contato com intelectuais e lhe possibilitando trabalhar com Peter Behrens, para quem os outros pais do movimento modernista da arquitetura, leiam-se Le Corbusier e Walter Gropius, também trabalharam entre 1907 e 1910.

Behrens e Berlage

Residência Tugendhat, patrimônio da humanidade. Behrens incorporou os fundamentos de um novo estilo, baseado na síntese da vida e da arte, no espectáculo arquitectónico e na recepção estilizada da Antiguidade clássica. Ele distanciou-se do traço sinuoso do Art Nouveau, sendo precursor de um estilo baseado na linha reta.

Entretanto, a acídia de Mies van der Rohe não combinava com um possível formalismo de Behrens, e Mies procurou a influência de um outro precursor do movimento modernista, o arquitecto holandês Hendrik Berlage, com quem se encontrou em Amsterdã, em 1912. Os princípios de Berlage baseavam-se no neoplatonismo da Idade Média, na filosofia de Santo Agostinho, cuja frase “a beleza é o brilho da verdade” tornou-se praticamente um axioma para Mies.

Seguindo os passos do mestre Berlage, a lei universal não era mais a verdade histórica, mas a procura da essência, da verdade da construção. Foi por essa busca constante da essência construtiva, da precisão do detalhe, que Walter Gropius apelidou Mies de “o solitário caçador da verdade”.

Desmaterialização da arquitetura

Interior da Neue Nationalgalerie, em Berlim A aplicação da procura da essência na arquitectura tem como consequência sua desmaterialização. A arquitectura de Mies tornou-se somente estrutura e membrana externa ou, como ele mesmo falava, uma arquitectura de “pele e osso”. A perfeição técnica dos detalhes viria apenas a apoiar este sentimento de vazio do espaço, que segundo Mies, deveria ser preenchido pela vida.

Os projectos de Mies são, às vezes, completamente ideais, somente espaço, como seus arranha-céus de vidro de 1922 ou a residência Farnsworth, nos EUA, de 1950. Em outros, matéria e espaço interagem em um jogo constante, como na residência Tugendhat de 1931, património histórico da humanidade, na cidade tcheca de Brno.

Mies estava no auge de sua carreira na Alemanha, quando foi convidado para projetar o pavilhão alemão para a Feira Mundial de Barcelona em 1929, hoje ícone da modernidade. Em 1930, ele assumiu a direção da Bauhaus, em Dessau.

O nazismo no poder e a emigração para os EUA

Móveis de Mies e Marcel Breuer no arquivo da Bauhaus em Berlim Em abril de 1932, os nazistas fecharam a Bauhaus. Mies a transferiu, com financiamento do próprio bolso, para um galpão industrial em Berlim-Steglitz. Em julho de 1933, ela foi novamente fechada pelos nazistas, que a consideravam “bolchevismo cultural”.

Mies não se considerava uma pessoa politizada. É interessante seu comentário sobre um colega que havia trabalhado para os nazistas: ”Não o desprezo por ser nazista, mas por ser mau arquitecto”.

Os anos de 1930 não foram fáceis para Mies, que não conseguia construir e vivia dos móveis que havia projectado. Emigrou para os EUA em 1938, aceitando o convite para dirigir o departamento de arquitetura do Instituto de Tecnologia de Illinois, em Chicago, cujo campus também projectou.

Na posse, foi saudado por Frank Lloyd Wright, que anos mais tarde o acusaria de haver fundado um novo classicismo nos Estados Unidos. E, de fato, com excepção da residência projectada para a senhora Farnsworth, em 1950, que lhe valeu um processo e, em época de caça às bruxas, a acusação de ser obra de comunista, Mies deu um carácter bastante clássico à sua arquitectura nos Estados Unidos.

Neue Nationalgalerie, 1969 Sua obra tornou-se mais estática, sem o jogo de diferenças que enriquecia a sua arquitectura anterior. Terminada em 1969, ano da morte de Mies, a Neue Nationalgalerie de Berlim, seu único projecto construído na Alemanha após a Segunda Guerra, comprova este classicismo, embora apresente a mesma conquista espacial de seus projectos anteriores, principal característica da obra de Mies van der Rohe.


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