À beira de um ataque de nervos...

Sento-me à beira de cada precipício para sentir o sopro do vento bater-me na cara; sinto cada batida como se fossem chicotadas na indiferença desta encruzilhada que todos nós enfrentamos. Quanto mais os olhos abro, menos consigo ver com o peso das pálpebras que teima em fechar-se. Mas a vontade de viver ultrapassa toda esta dor que sinto, e o prazer espreita-me em cada desafio que desmedidamente enfrento. A nossa ambição alarga-se à medida que os caminhos se estreitam, até que nos sintamos demasiado apertados para conseguirmos mudar noutra direcção, e o peso dessa consciência transforma-se numa latente frustração.


Respiro este ar devagar com receio que ele se esgote, porque deixei de acreditar que ele me seja oferecido, sem pedir nada em troca. Desconfio da vida que me consome todos os sentidos em objectivos descontrolados que me dão outra vida sem sequer a ter desejado. Deixei de ter opções de escolha qualquer que seja o caminho, porque o destino barrou-me os sentidos.


Nunca perspectiva de querer alterar a minha condição niilista, e nunca desistindo de alcançar a minha subsequente predestinação, sem nunca me reconfortar em baixar os braços. Porque há sempre um tempo de mudar esse percurso previamente traçado; deixando, que seja o sopro do vento a indicar-me uma nova direcção.

A palavra - António Ramos Rosa