Queria escrever...
Imagem de Svetlana Valueva
Queria escrever uma carta, que não fosse uma carta de amor.
Uma carta de sentimentos serenos, tal como a música que toca neste momento e que enche de paz o meu coração.
Abro a minha janela: lá fora a vida convida a caminhar, por entre o roseiral florido do jardim.
As rosas, ao abrir, envolvem o ar no seu perfume suave.
As aves, no azul céu sacodem a plumagem e batem seu voo incerto, em direcção ao mar.
A natureza desperta e faz-me sonhar, vagamente.
No beiral do meu telhado, um melro esvoaça.
Ele vem recordar o meu amor… ausente…numa saudade branda, que o meu coração afaga.
Percorro o caminho serenamente. Há muito que assim não me sentia. Sei que para lá do arvoredo, nada existe. Nada, a não ser eu. E os meus sonhos.
Há dias, alguém dizia-me:
“…Mas que esperas tu? Um dia os sonhos findam, e não nos resta mais nada, a não ser o caminho da espera… do fim.”
Recuso-me a aceitar que a minha vida e os meus sonhos terminaram, só porque a minha condição de Mulher se cumpriu.
O meu coração está cheio de esperança. Na solidão do encontro de mim, olho o presente, não o futuro.
céu de nuvens negras
chuva
abrigo
silêncio.
Os acordes do tango
entoam
dentro do meu coração.
Mas é no fado cantado
onde choro de emoção...
Vai distante o passado; e se a dor se esquece, a saudade permanece.
É ela que me acalenta, que permanece em mim, em cada aurora…
Mas eu queria escrever uma carta, que não fosse de… amor…